William Shakespeare (1564 - 1616)

Sabe-se muito pouco da vida de Shakespeare, o mesmo ocorre com todos os dramaturgos elisabetanos, pois as peças não foram consideradas, na época, como obras literárias, mas como meros libretos para os autores, de modo que não se prestou àqueles autores a consideração de lhes prestar as circunstâncias biográficas. Shakespeare nasceu em 1564, na cidade Stratford on Avon, era o mais velho dos cinco filhos- quatro dos quais homens- que sobreviveu à infância. Sua família era de pequenos proprietários. Stratford tinha uma escola primária gratuita da qual, podemos supor, Shakespeare foi aluno; lá ele teria adquirido alguns conhecimentos de latim e, mais tarde, deve ter aprendido a ler francês e italiano. Questiona- se se ele teria sido um leitor assíduo; se não foi, é difícil explicar seu vasto vocabulário, em constante ampliação. A partir de 1575 os negócios de seu pai começaram a fracassar; e Shakespeare foi obrigado a trabalhar como guardador de cavalos, mas, seu pai nunca chegou a falir, mas foi afligido por dívidas e litígios durante anos, além de perder seu posto de prestígio no Conselho Municipal. Tudo isto aconteceu durante sua adolescência, um período de sensibilidade aguda para que ele se expusesse a uma derrocada familiar dessas proporções; isso pode muito bem ter provocado cicatrizes permanentes. A própria cidade de Stratford também passava por um período difícil e em 1590 teve de requerer isenção de impostos, afirmando que, com seu comércio em decadência, os pobres "agora vivem penúria e miséria". Desde cedo em sua vida, Shakespeare conviveu com o espetro da pobreza, o que deve tê- lo ensinado duas coisas: um sentimento de camaradagem para com os pobres e uma determinação de não se ver condenado a uma vida de privações. O declínio familiar teve um efeito desorientador sobre ele, uma conseqüência pode ter sido, se pudermos confiar numa velha história- a invasão de propriedade e o processo movido contra ele pelo senhor de terras Sir. Thomas Ludy. Um episódio com esse poderia ter acendido uma prematura mas duradoura faísca de radicalismo, um ressentimento contra a arrogância dos ricos. Uma outra conseqüência não tão benigna de sua inquietude juvenil- pode- se pensar- foi seu casamento, aos 18 anos com uma mulher de 26, filha de um respeitável fazendeiro, apressado por uma gravidez. Foi uma "união muito em comum", que requereu o consentimento do pai de Shakespeare, uma vez que ele era menor de idade. Da união nasceu uma menina em 1583 e um casal de gêmeos em 1585. Diversos traços espalhados por algumas de suas primeiras peças parecem confirmar as suspeitas de que ele era assombrado pela imagem de uma mulher geniosa. "Falar pouco deve ser a única virtude de uma mulher", diz pajem Launce. Hotspur acha Glendower tão entediante quanto "um cavalo cansado, uma mulher injuriada". "As mulheres são víboras, sejam altas ou baixas", canta o juiz Silêncio. Uma evidência clara de seu arrependimento por um casamento apressado seria sua desaprovação obsessiva ao sexo antes do matrimônio, que se verifica em peças tão cronologicamente distantes como Romeu e Julieta e A Tempestade. De qualquer maneira, sua esposa dificilmente seria a companheira adequada para um jovem cuja mente se desenvolvia com extraordinária rapidez, como deve ter acontecido a Shakespeare. Entre os anos de 1585 e 1592 ele desaparece de cena. Em alguma data- talvez 1589- seguiu para Londres, como fizeram outros jovens de Stratford. Talvez ele já estivesse fascinado pelo teatro: atores itinerantes haviam visitado sua cidade e ele provavelmente os viu. A imagem que temos dele não é a de um escritor jovem: se ele começou por volta de 1590, ele já tinha 26 anos. Shakespeare foi um dos poucos dramaturgos elisabetanos que também foi ator, ainda que, como tal, não estivesse entre os primeiros. No entanto, por volta de 1600, ele já era o autor mais popular de todos. Não se sabe de nenhum outro dramaturgo que se tenha tornado acionista de um teatro, como Shakespeare, com 10% dos lucros, desde a inauguração do novo teatro Globe, em 1599. Ninguém poderia ser um homem de teatro de maneira tão completa, embora ele também fosse muito mais do que isso. Sua companhia, Companhia do Camareiro Mor- que, por determinação de James I, tornou- se Os homens do Rei- parece ter sido uma família feliz. Shakespeare teve a sorte de entrar para o teatro quase na mesma &eacuShakespeare teve a sorte de entrar para o teatro quase na mesma época em que muitos dos escritores mais proeminentes dele se afastavam: Greene morreu em 1592, Marlowe em 1593, Kyd em 1594. Entretanto, a ascensão de Shakespeare pode não ter sido sempre fácil. Os insatisfeitos, homens contrariados por terem sido excluídos de posições das quais consideravam- se dignos, são fatores comuns em suas peças e nas primeiras podem, às vezes, ser verbalização das próprias frustrações do próprio dramaturgo. Richard Crookback, numa alegoria curiosamente patética, mostra- se como um viajante. Os atores devidamente licenciados que tinham um patrono de alto nível social foram aceitos como profissionais respeitáveis pelo Ato de 1571 e podiam ganhar fama e riqueza. A classe alta, contudo, ainda os via com desdém e os religiosos com hostilidade. não surpreende, portanto, que uma das qualidades que Shakespeare logo aprendeu a apreciar tinha sido a paciência, a constância para superar as adversidades. No início, em Dois Cavalheiros, as tribulações de Sílvia a ensinam a enfrentar os problemas "pacientemente", e Valentine suplica por "paciência". Um grupo de imagens recorrentes revela o quanto Shakespeare detestava a bajulação hipócrita; talvez mais ainda pelo fato de ele mesmo ter sido compelido a recorrer a ela algumas vezes, e não apenas em seus sonetos. Suas origens provincianas podem ajudar a explicar sua preferência por modo mais simples e sinceros. Ele aprecia fazer comentários edificantes sobre a falácia dos "espetáculos superficiais", sobre o abismo existente entre pretensão e a verdadeira riqueza. Os ares empavonados de Touchstone não impressionam o honesto pastor Corin. A maneira de falar bombástica e as "frases de tafetá" estão entre os maus hábitos dos quais Berowne resolve se livrar. A "sinceridade" estava, de fato, tornando- se o parâmetro moral de Shakespeare. Ele deve ter detestado as promessas, uma vez que elas podiam revelar- se enganadoras e, quando genuínas, eram supérfluas. "Nunca jure", diz Julieta a Romeu. Crookback pode apresentar- se exatamente como o homem que sabe como sorrir e como ser um vilão, conforme diz Hamlet. Shakespeare deve ter feito alguns bons amigos ou, pelo menos, ter sentido falta deles. O respeito pela amizade leal, nos bons ou maus momentos, resplandece até mesmo em uma metáfora tão absurda quanto a de que os cabelos de uma dama "permaneçam alinhados na calamidade", ou numa despedida tão comum quanto a de Warwick e os dois irmãos antes da batalha. Um escritor aprendiz pode ter fortes sentimentoA "sinceridade" estava, de fato, tornando- se o parâmetro moral de Shakespeare. Ele deve ter detestado as promessas, uma vez que elas podiam revelar- se enganadoras e, quando genuínas, eram supérfluas. "Nunca jure", diz Julieta a Romeu. Crookback pode apresentar- se exatamente como o homem que sabe como sorrir e como ser um vilão, conforme diz Hamlet. Shakespeare deve ter feito alguns bons amigos ou, pelo menos, ter sentido falta deles. O respeito pela amizade leal, nos bons ou maus momentos, resplandece até mesmo em uma metáfora tão absurda quanto a de que os cabelos de uma dama "permaneçam alinhados na calamidade", ou numa despedida tão comum quanto a de Warwick e os dois irmãos antes da batalha. Um escritor aprendiz pode ter fortes sentimentos a respeito de coisas que não pode ainda revestir de expressões adequadas. Shakespeare se preocupava com despedidas, separações, exílios porquê significavam a ruptura dos laços humanos, que são a essência da vida. Em torno de 1593 ou 1594 Shakespeare estava na posição de dedicar longos poemas a um jovem e rico patrono, o conde de Southampton, um protegido do poderoso ministro Lord Burghley. Ele já se acercava da aristocracia, cujo contato nada fácil se notava nos Sonetos. O que ele via ou ouvia nas altas esferas deve tê- lo auxiliado no colorido do seu retrato de uma nobreza decadente, tanto moral como politicamente, nos Dramas Históricos. Ele não estava apenas escrevendo a história, ele estava vivendo em suas margens. Uma noite, em 1601, sua companhia estava se apresentando em Whitehall para a rainha, no dia em que ela assinara a sentença de morte de Essex, que seria executado dali a poucas horas. Southsampton também estava envolvido no levante louco de Essex e escapou do calabouço por pouco. Shakespeare não levou sua família para Londres- a princípio simplesmente porque não tinha condições de sustentá- la. Talvez também não quisesse que suas filhas crescessem numa cidade onde seu pai era um ator conhecido. Talvez temesse que a esposa não se adaptasse às companhias que ele mantinha, fossem sociais ou literárias. Parece que ele passou a maior parte do tempo vivendo em hospedarias, o que lhe dava a liberdade de se mudar quando bem entendesse. "Shakespeare vivia próximo de seu trabalho"; vivendo em Bishopsgate, ele atravessou o rio em torno de 1599 para estar próximo do Globe. Poderia- se tomá- lo por um trabalhador sóbrio e metódico, mas um retrato diferente, mais "boêmio", nos é dado por Bem Jonson em uma passagem de seu livro de citações, aparentemente referindo- se a Shakespeare sem usar seu nome: Shakespeare não levou sua família para Londres- a princípio simplesmente porque não tinha condições de sustentá- la. Talvez também não quisesse que suas filhas crescessem numa cidade onde seu pai era um ator conhecido. Talvez temesse que a esposa não se adaptasse às companhias que ele mantinha, fossem sociais ou literárias. Parece que ele passou a maior parte do tempo vivendo em hospedarias, o que lhe dava a liberdade de se mudar quando bem entendesse. "Shakespeare vivia próximo de seu trabalho"; vivendo em Bishopsgate, ele atravessou o rio em torno de 1599 para estar próximo do Globe. Poder- se- ia tomá- lo por um trabalhador sóbrio e metódico, mas um retrato diferente, mais "boêmio", nos é dado por Bem Jonson em uma passagem de seu livro de citações, aparentemente referindo- se a Shakespeare sem usar seu nome: ele aparece somente uma página depois da célebre crítica ao estilo de Shakespeare como demasiadamente prolixo e rebuscado. Nesse relato, ele parece como um escritor que não conseguia começar um trabalho, mas quando o fazia, escrevia febrilmente por dias e noites até a exaustão e, então, entregava- se a "entretenimento e preguiça". Se ele não era um autêntico cidadão puritano, dedicado a aplicações constantes e à parcimônia, vivia de maneira a poder economizar e investir dinheiro. A morte de seu filho Hamnet em 1596, aos onze anos, cortou pela raiz quaisquer esperanças que tivesse de ser fundador de uma família, mas ele continuou sendo cuidadoso com o dinheiro. Ele tinha duas filhas para dar em casamento, mas parecia estar primordialmente preocupado com dias mais difíceis. Em 1599- certamente com sua ajuda- seu pai obteve, depois de uma frustrada tentativa anterior, o brasão de armas que tanto almejara. Muito provavelmente, William também o considerava o emblema de um cavalheiro: na sociedade inglesa, uma distinção obscura mas de peso. A partir dessa época pareceu que visitou Stratford todos os anos, comprando terras e fazendo outros investimentos. Ele herdara o gosto de seu pai pelo litígio e "defendia acirradamente seus direitos". Shakespeare parece ter- se dividido em dois: um devotado a cavar o ouro da imaginação e outro dedicado a organizar uma renda modesta. Seus trabalhos, embora irregulares, devem ter sido exaustivos. Não raramente ele cai no sono profundo que vem do trabalho braçal, em oposição às noites inquietas de uma mente fatigada. Parece que ele deixou o palco por volta de 1608 e se retirou para Stratford, com algumas peças ainda por escrever. Talvez seu lugar de nascimento não tenha sido um refúgio tão consolador quanto Shakespeare parece ter- se dividido em dois: um devotado a cavar o ouro da imaginação e outro dedicado a organizar uma renda modesta. Seus trabalhos, embora irregulares, devem ter sido exaustivos. Não raramente ele cai no sono profundo que vem do trabalho braçal, em oposição às noites inquietas de uma mente fatigada. Parece que ele deixou o palco por volta de 1608 e se retirou para Stratford, com algumas peças ainda por escrever. Talvez seu lugar de nascimento não tenha sido um refúgio tão consolador quanto esperava. O puritanismo, que tinha como uma de suas características o repúdio ao teatro, ganhava terreno em Stratford. Em 1612, o conselho local proibiu completamente a apresentação de peças teatrais. Pouco antes de sua morte, em 1616, sua filha mais nova, Judith, aos 31 anos, casou- se de forma um tanto irregular com um homem quatro anos mais jovem que ela e não foi muito bem- sucedida. Em algumas ocasiões deve ter ocorrido a Shakespeare que ele a havia negligenciado durante a infância. Quando de sua morte, apenas metade de suas peças haviam sido publicadas- algumas de maneira imperfeita. A coletânea completa First Folio- ainda uma novidade naquela época- apareceu em 1623, por iniciativa de dois atores que foram seus companheiros. A dedicatória lamentava o fato de que ele não pudesse ter "continuado e revisando seus escritos"- frase que sugeria talvez que o projeto teria sido discutido antes de sua morte, com sua aprovação. É difícil duvidar disso. Ele havia escrito em sua juventude, de forma eloqüente, sobre a imortalidade conferida pelo verso. Isso fazia parte do espírito de sua era, ou dos muitos para os quais a fama imortal substituía o que a religião não mais oferecia de maneira convincente. Quando Bassânio fala em morrer para salvar Antônio, seu amigo o desafia: "fique vivo e escreva meu epitáfio". Hamlet diz o mesmo a Horácio. Era uma idéia inspirada pelo forte sentido social de Shakespeare, além de qualquer interesse pessoal. Um homem e sua reputação pertencem ao mesmo tronco; as lembranças que deixam aos outros importam quando eles se vão. Mas o poeta pode ter- se cansado de tudo, ou, então, de enfrentar o trabalho de revisão. Ele já havia escrito muito a respeito do passado e, agora, divertia- se mais especulando sobre o futuro. Um bom punhado de idéias espalhadas pelas peças sugere que ele já havia feito isso com freqüência, de uma forma ou de outra. Um quarto de século após sua morte, a Inglaterra deparava- se com uma guerra civil diferente daquela sobre a qual ele escrevera ou de qualquer outra que já houvesse ocorrido. Em julho de 1643 a rainha HenrieEle já havia escrito muito a respeito do passado e, agora, divertia- se mais especulando sobre o futuro. Um bom punhado de idéias espalhadas pelas peças sugere que ele já havia feito isso com freqüência, de uma forma ou de outra. Um quarto de século após sua morte, a Inglaterra deparava- se com uma guerra civil diferente daquela sobre a qual ele escrevera ou de qualquer outra que já houvesse ocorrido. Em julho de 1643 a rainha Henrietta Maria alcançou Stratford, com um pequeno exército em marcha, e ficou hospedada três dias em New Place, a casa da senhora Hall, Susanna, a filha mais velha do poeta.

Bibliografia :

· Grande enciclopédia Larousse Cultural

· Shakespeare- Poeta e Cidadão Editora: Unesp Autor: Victor Kiernan

· A expressão Dramática do homem político em Shakespeare Volume: 3 Autora: Bárbara Heliodora

· Enciclopédia Universal Vol III

· A Civilização da Renascença Autor: Jean Delumeau · A Arte de ver arte Autora: Susan Woodford/ 1a Edição

· História Mundial da Arte/ O Renascimento Volume: 3 Autores: Everard M. Upjohn Paul S. Wingert Jane G. Malher

· A expressão Dramática do homem político em Shakespeare Volume: 3 Autora: Bárbara Heliodora

· Conceitos Fundamentais da História da Arte Autor: Heinrich Wölfflin

· Shakespeare- Poeta e Cidadão Editora: Unesp Autor: Victor Kiernan

· Grande Enciclopédia Delta Larousse

· Help! Sistema de Consulta Interativa Técnicas de Redação de Literatura O Estado de São Paulo

· Enciclopédia Brasileira Volume: 06/ Rev- Zum · Enciclopédia Universal Vol. III

· O Mundo de Sofia Autor: Jostein Gaarder · O texto de Romeu e Julieta, foi retirado do site: http://www.geocities.com/Augusta/5530/RJulieta.htm

· Freud Interpreta Shakespeare, foi retirado do site: http://www.elogica.com.br/users/ferdinan/017.htm ("Freud e Shakespeare", Imago Editora, Rio de Janeiro, 1989)

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