Para as bruxas, Deus é mulher. As novas bruxas são feministas,
femininas e ecológicas. Acreditam na força da magia e na divindade
mais velha do mundo, a Deusa. Senhora da lua, ela regula as marés, os
partos, o cio e o humor instável das mulheres e apresenta-se em três
aspectos principais: a virgem, associada à lua crescente, aos impulsos
e à alegria dos começos; a mãe, grande nutridora associada
à plenitude feminina e à lua cheia; e a anciã, que simboliza
a velha sábia, representada pela lua minguante. Mas a deusa também
é associada à Terra, mãe dos bichos, dos homens e das colheitas
ou dos terremotos e das tempestades devastadoras. A deusa personifica
o feminino sagrado, o princípio criativo que ama e conecta tudo, incluindo
o bem e o mal.
As bruxas não acreditam em diabo uma invenção cristã,
segundo elas. Não fazem rituais satânicos nem creêm em qualquer
entidade semelhante. Para o bruxo Claudiney Prieto, não existe
magia do bem e do mal. A magia é uma só. O que define resultados
negativos ou positivos é a ação do bruxo. O mesmo remédio
pode curar ou matar, dependendo da intenção com que é manipulado,
explica Prieto. Segundo ele, o que vale para os bruxos é o princípio
da polaridade: O bem e o mal estão dentro de nós, não
fora. Todos os seres contêm o negativo e o positivo, o feminino e o masculino,
conclui.
Para ingressar na religião, as bruxas wicca fazem um juramento e têm que se sujeitar às leis da feitiçaria. O dogma principal reza: Faça o que quiser, desde que não faça mal à ninguém. Quem desobedece é julgado dentro do círculo mágico e pode ser expulso do grupo. Outro regulador natural é a lei tríplice que garante que tudo o que uma pessoa faz de bom ou mal volta para ela triplicado. Segundo Prieto, quem começa a praticar a magia verifica imediatamente o rigor dessa lei.
O movimento wicca, que congrega as feiticeiras
modernas no mundo todo, é na verdade um resgate da bruxaria, uma das
mais antigas religiões do Ocidente. A deusa que as bruxas cultuam também
é conhecida como a Grande Mãe, a mais velha de todas as divindades
(a religião existe desde 4 mil aC, mas a deusa é cultuada desde
o período paleolítico, 25 mil aC) e se manifestou em várias
civilizações, com formas e nomes diferentescomo Ishtar,
Ísis ou Ártemis -- antes que o poder feminino fosse soterrado
pelo patriarcado e que as bruxas fossem condenadas à fogueira (veja quadro).
Segundo os estudiosos, o arquétipo da deusa é a fonte original
de todas as divindades, incluindo Nossa Senhora (freqüentemente representada
num pedestal com a lua crescente). Mas para a deusa pagã (não-cristã),
a sexualidade é reverenciada como um poder criador, desvinculado da noção
de culpa ou pecado. Seu parceiro, o deus Cornífero, é símbolo
da natureza intocada e dos animais selvagensrepresenta a fertilidade e
o vigor sexual.
Uma das maiores habilidades da bruxa é saber direcionar a energia inesgotável
da natureza a seu favor como indica a origem da palavra wicca, do inglês
arcaico wicce, que significa, girar, dobrar, moldar. Os feitiços e encantamentos
não utilizam sangue ou animais, mas símbolos mágicos e
invocações aos deuses da natureza. Com esse caráter libertário,
a bruxaria seduziu as feministas americanas nos anos 70. Foram elas que deram
o maior impulso ao movimento depois da religião ter sido resgatada da
clandestinidade pelo bruxo inglês Gerald Gardner, que ousou publicar um
livro em 1949, dois anos antes de cair a última lei contra a bruxaria
na Inglaterra. No Brasil, as bruxas-- identificadas pelos seus colares e amuletos
com o pentáculo, uma estrela de cinco pontas--estão sobretudo
no Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília, nos chamados covens,
grupos organizados que ensinam e praticam a Arte, um dos muitos nomes da bruxaria,
também chamada de Antiga Religião ou Religião da Deusa.