Bruxas do século XXI
As bruxas wicca acreditam no poder da mulher e adoram uma antiga deusa pagã. Elas realizam rituais mágicos, celebram a lua e a natureza e encaram a sexualidade sem culpa. A religião tem mais de 12 milhões de adeptos no mundo, foi legalizada nos Estados Unidos e não pára de crescer no Brasil.


Para as bruxas, Deus é mulher. As novas bruxas são feministas, femininas e ecológicas. Acreditam na força da magia e na divindade mais velha do mundo, a Deusa. Senhora da lua, ela regula as marés, os partos, o cio e o humor instável das mulheres e apresenta-se em três aspectos principais: a virgem, associada à lua crescente, aos impulsos e à alegria dos começos; a mãe, grande nutridora associada à plenitude feminina e à lua cheia; e a anciã, que simboliza a velha sábia, representada pela lua minguante. Mas a deusa também é associada à Terra, mãe dos bichos, dos homens e das colheitas –ou dos terremotos e das tempestades devastadoras. A deusa personifica o feminino sagrado, o princípio criativo que ama e conecta tudo, incluindo o bem e o mal.
As bruxas não acreditam em diabo –uma invenção cristã, segundo elas. Não fazem rituais satânicos nem creêm em qualquer entidade semelhante. Para o bruxo Claudiney Prieto, “não existe magia do bem e do mal. A magia é uma só. O que define resultados negativos ou positivos é a ação do bruxo. O mesmo remédio pode curar ou matar, dependendo da intenção com que é manipulado”, explica Prieto. Segundo ele, o que vale para os bruxos é o princípio da polaridade: “O bem e o mal estão dentro de nós, não fora. Todos os seres contêm o negativo e o positivo, o feminino e o masculino”, conclui.

Para ingressar na religião, as bruxas wicca fazem um juramento e têm que se sujeitar às leis da feitiçaria. O dogma principal reza: “Faça o que quiser, desde que não faça mal à ninguém.” Quem desobedece é julgado dentro do círculo mágico e pode ser expulso do grupo. Outro regulador natural é a “lei tríplice” que garante que “tudo o que uma pessoa faz de bom ou mal volta para ela triplicado”. Segundo Prieto, quem começa a praticar a magia verifica imediatamente o rigor dessa lei.

O movimento wicca, que congrega as feiticeiras modernas no mundo todo, é na verdade um resgate da bruxaria, uma das mais antigas religiões do Ocidente. A deusa que as bruxas cultuam também é conhecida como a Grande Mãe, a mais velha de todas as divindades (a religião existe desde 4 mil aC, mas a deusa é cultuada desde o período paleolítico, 25 mil aC) e se manifestou em várias civilizações, com formas e nomes diferentes—como Ishtar, Ísis ou Ártemis -- antes que o poder feminino fosse soterrado pelo patriarcado e que as bruxas fossem condenadas à fogueira (veja quadro).
Segundo os estudiosos, o arquétipo da deusa é a fonte original de todas as divindades, incluindo Nossa Senhora (freqüentemente representada num pedestal com a lua crescente). Mas para a deusa pagã (não-cristã), a sexualidade é reverenciada como um poder criador, desvinculado da noção de culpa ou pecado. Seu parceiro, o deus Cornífero, é símbolo da natureza intocada e dos animais selvagens–representa a fertilidade e o vigor sexual.
Uma das maiores habilidades da bruxa é saber direcionar a energia inesgotável da natureza a seu favor —como indica a origem da palavra wicca, do inglês arcaico wicce, que significa, girar, dobrar, moldar. Os feitiços e encantamentos não utilizam sangue ou animais, mas símbolos mágicos e invocações aos deuses da natureza. Com esse caráter libertário, a bruxaria seduziu as feministas americanas nos anos 70. Foram elas que deram o maior impulso ao movimento depois da religião ter sido resgatada da clandestinidade pelo bruxo inglês Gerald Gardner, que ousou publicar um livro em 1949, dois anos antes de cair a última lei contra a bruxaria na Inglaterra. No Brasil, as bruxas-- identificadas pelos seus colares e amuletos com o pentáculo, uma estrela de cinco pontas--estão sobretudo no Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília, nos chamados covens, grupos organizados que ensinam e praticam a Arte, um dos muitos nomes da bruxaria, também chamada de Antiga Religião ou Religião da Deusa.

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